A INVENÇÃO DA RODA: EXCLUSIVIDADE DOS HUMANOS?

Frequentemente a roda é mencionada como uma das invenções mais importantes da humanidade. É difícil precisarmos o momento de sua descoberta. Possivelmente foi concebida em algum momento a partir de 50.000 antes do presente, quando os humanos viveram a Explosão Criativa do Paleolítico Superior (ver aqui). No entanto, a evidência mais antiga do seu uso para locomoção é de 5.100 a 5.300 anos atrás, da antiga cidade de Uruk, na Mesopotâmia.

Pictografia em tabletes de barro encontrada em Uruk, na antiga Mesopotâmia (atual Iraque ), aponta para o uso de veículos com rodas. Datado de cerca de 3.300-3.100 AC.

O registro inequívoco mais antigo de uma roda foi encontrado na Ljubljana, próxima da Eslovenia e tem a mesma idade dos registros da Mesopotâmia.

Essa roda de madeira foi encontrada nos pântanos de Ljubljana a 20 quilômetros da Eslovênia, em 2002. Datação por radiocarbono, mostrou que tem aproximadamente 5.200 anos, o que a torna a roda mais antiga já descoberta.

Ao longo da história, grande parte das invenções humanas foi inspirada no mundo natural (e.g. o avião a partir das aves planadoras), mas a roda para locomoção é usualmente reconhecida como uma inovação 100% creditada ao Homo sapiens. Na realidade, podemos dizer que a natureza chegou perto várias vezes, afinal as plantas Tumbleweeds, os besouros de esterco (Scarabaeidae), a aranha-roda dourada (Carparachne aureoflava), o crustáceo estomatópode (Nannosquilla decemspinosa) e o pangolim (Manis spp.) usam ou podem usar o sistema rotativo de locomoção. Veja a seguir:

Tumbleweed é parte de plantas (de certas espécies) que se desprende de suas raízes e é movida pelo vento, espalhando assim sementes pelo caminho.
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Os besouros do esterco, cosmopolitas, enrolam fezes de animais em bolas, as quais são assim transportadas para os seus ninhos para a alimentação de suas larvas.
A aranha-roda dourada (Carparachne aureoflava) do deserto da Namíbia dobra as pernas e rola pelas dunas de areia para escapar das vespas predadoras.
Acima, o aspecto do crustáceo estomatópode Nannosquilla decemspinosa. Em baixo, o animal durante a locomoção em roda.
O pangolim (Manis sp.), da África e Ásia, tem o comportamento de se enrolar como uma bola e eventualmente pode rolar para fugir de predadores.

O motor que aciona o flagelo bacteriano é a única estrutura verdadeira de roda e eixo conhecida em biologia e podemos dizer que esses microorganismos “inventaram” a roda muito antes dos humanos. Essas bactérias giram o flagelo usando um motor molecular em forma de roda.

ToughSF na Twitteru: "While the bacterial flagellar motor is an incredible  piece of biological machinery approaching 100% chemical to mechanical  conversion efficiency, it is used very poorly and the overall propulsive  efficiency
Estrutura da roda biológica que movimenta o flagelo que propulsiona muitas bactérias .

Há mais de 5.000 anos os humanos não poderiam ter ideia do mecanismo de roda e eixo de uma bactéria flagelada, mas talvez tenham se inspirado em um besouro do esterco para criarem a estrutura que mudou o rumo da humanidade.

REFERÊNCIAS

Bakker, J., Kruk, J., Lanting, A., & Milisauskas, S. (1999). The earliest evidence of wheeled vehicles in Europe and the Near East. Antiquity, 73(282), 778-790. doi:10.1017/S0003598X00065522

Gasser, Aleksander (March 2003). “World’s Oldest Wheel Found in Slovenia”. Government Communication Office of the Republic of Slovenia. Archived from the original on 2016-08-26. Retrieved 2015-03-07.

LaBarbera, M. (1983). Why the Wheels Won’t Go. The American Naturalist, 121(3), 395–408. http://www.jstor.org/stable/2461157

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