O dente-de-leão (Taraxacum officinale) é uma planta familiar para maioria das pessoas. Além de ser considerada uma erva-daninha, comum em gramados, quem já não quis soprar essas bolas redondas cheias de tufos? Embora muitos chamem essa bolas de flor, na realidade as flores dessa espécie são amarelas. A flor do dente-de-leão é uma inflorescência, ou seja, é um agrupamento de várias flores sobre o pedúnculo.

São essas diversas flores do dente-de-leão que dão origem ao cacho globoso formado por várias hastes, que contém o fruto e a semente.

O fruto seco com a semente em seu interior ficam na base de cada haste e acima desta os tufos, que é chamado de pappus.

Essa estrutura pode ser facilmente carregada pelo vento. Esse mecanismo de voo passivo é altamente eficaz, permitindo a dispersão das sementes a distâncias formidáveis. A maioria das sementes de dente-de-leão, após um sopro, provavelmente pousa dentro do limite de 2 metros. No entanto, em condições quentes, secas e com muito vento, essas sementes emplumadas podem se dispersar ao longo de 30 km e ocasionalmente até 150 km. A alta eficiência do voo das sementes dessa planta, nativa da Europa e da Ásia, certamente auxiliou em sua dispersão nas Américas, África e Oceania.
MAS O QUE FAZ ESSA ESTRUTURA TER UM VOO TÃO EFICIENTE?
Pesquisadores da Universidade de Edimburgo, do Reino Unido, estudaram o incrível voo das sementes do dente-de-leão. Para isso , os cientistas construíram um túnel de vento vertical, com um ventilador na base. Então colocaram a semente em meio ao fluxo de ar que saia pelo túnel. Ao variar a velocidade do vento eles deixaram a semente estacionada em meio ao fluxo de ar.
Utilizando câmeras de alta e baixa velocidade e iluminando a região com um laser foi possível observar o que acontece com o ar que passa pelo tufo de pelos do dente-de-leão.

As filmagens revelaram que o ar passa ao redor do tufo de filamentos e entre os filamentos. A combinação desses fluxos de ar provoca um redemoinho (vórtice) acima do pappus, criando uma região de baixa pressão. A baixa pressão puxa a semente para cima, diminuindo muito a velocidade com que ela cai em direção ao solo.

A grande economia desse tipo de voo é que essas hastes emplumadas podem usar apenas 10% da carga de uma estrutura sólida similar a de um paraquedas.
O mecanismo de sustentação de voo da semente do dente-de-leão é completamente distinto de outros observados na natureza e copiados pelos humanos. Talvez esse mecanismo singular possa inspirar engenheiros a bolarem máquinas voadoras muito distintas das que conhecemos.
Veja aqui o vídeo que exibe as filmagens e o experimento desenvolvido pelo cientistas.
***E em breve leia aqui o incrível voo do dente-de-leão II
REFERÊNCIA:
Cummins, C., Seale, M., Macente, A. et al. A separated vortex ring underlies the flight of the dandelion. Nature 562, 414–418 (2018). https://doi.org/10.1038/s41586-018-0604-2