O MOVIMENTO ANTI-VACINAS: UMA LUTA CONTRA O OBSCURANTISMO

Há uma corrida envolvendo várias instituições de pesquisa e cientistas do mundo inteiro para criar uma vacina contra a Covid-19. Porém, já existem movimentos anti-vacinação que podem gerar um grande empecilho. Alegações anti-vacina incluem desde falsas alegações da morte de uma mulher que participou de um teste no Reino Unido até narrativas estranhas como as que dizem que as vacinas contra o coronavírus serão usadas para implantar microchips nas pessoas ou que elas “matariam milhões”. Alguns grupos anti-vacinas nas redes sociais receberam mais de 8 milhões de visualizações.

Estudo conduzido pelo físico Neil Johnson da Universidade George Washington, em Washington DC, mapeou e analisou grupos que abordam vacinas entre os três bilhões de usuários do Facebook. Entre esses usuários há quase 100 milhões de pessoas que expressam opiniões sobre a vacinação.


Os indivíduos se reúnem em clusters interconectados altamente dinâmicos em cidades, países, continentes e idiomas. A figura abaixo ilustra essas interconexões. Embora exista maior número de pessoas pró-vacinas (6,9 milhões) que anti-vacinas (4,3 milhões) há muito mais grupos anti-vacinas (124 pró-vacinas e 317 anti-vacinas). Pessoas consideradas indecisas totalizam 74,1 milhões agrupadas e 885 clusters.

Anti-Vaxxers' Social Networks are Ripe With People Susceptible to ...
Amostragem de links entre grupos de Facebook postados em um dia de 2019. A conexão entre posições anti-vacinação (vermelho), pró-vacinação (azul) e indecisos (verde) sugerem que os pequenos movimentos anti-vacinação criaram uma expansão de páginas que são “altamente enredadas” na discussão entre grupos indecisos.

Sete características dessa rede de clusters e sua evolução explicam por que as visões negativas se tornaram tão robustas e resistentes:

1-Como pode ser observado na figura acima, os grupos pró-vacinação (representados pelos pontos azuis) estão muito mais longe do “centro da discussão”. Em contraste, os grupos anti-vacinação (pontos vermelhos) estão muito mais conectados com os indecisos (pontos verdes).

2-O grupo de indecisos representa a esmagadora maioria na discussão. Apesar de indecisos, estes internautas revelam uma grande atividade no Facebook. A aproximação deste grupo à comunidade anti-vacinação (visível no gráfico) faz, aparentemente, com que a discussão venha ser vencida pelo grupo anti-vacina.

3-Os grupos de anti-vacinação formam mais que o dobro daqueles que são pró-vacinação, o que significa que geram uma maior quantidade de conteúdos e de sites relacionados do que os seus oponentes. Isto significa que os grupos que são contra as vacinas têm uma maior capacidade de se infiltrarem nas outras comunidades, nomeadamente na dos indecisos.

4-Os grupos antivacinação têm uma oferta muito mais vasta de narrativas, que misturam tópicos como a segurança, as teorias de conspiração ou as hipóteses de medicina alternativa. Com o aparecimento da doença Covid-19, surgiu um quarto tópico, as dúvidas levantadas quanto à causa e à cura do novo coronavírus. Em contraste, as narrativas dos grupos pró-vacinação são muito mais monotemáticas.

5-O clusters anti-vacinação cresceram mais de 300%, ao passo que nenhum cluster pró-vacinação cresceu mais de 100%. Isso é mais um sinal de que a população anti-vacinas consegue atrair mais indecisos, devido à maior prevalência de clusters.

6-Boa parte dos clusters dos grupos antivacinação consegue chegar a quase todas as comunidades, ao passo que os pró-vacinação passam despercebidos nas redes, além de que os seus clusters são menores.

7-A comunidade anti-vacina consegue gerar interação, não só ao nível local ou nacional, mas também no espectro internacional, intensificando a ação de campanha junto de vários clusters globais.

 Simulações apontam para a possibilidade de, num espaço de 10 anos, os grupos e as interações de conteúdos anti-vacinas poderem dominar a discussão nas redes sociais.

REFERÊNCIA

Johnson, NF, Velásquez, N., Restrepo, NJ et al. A competição online entre pontos de vista pró e anti-vacinação. Nature 582, 230-233 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-2281-1

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