Autores: Gisele Ducati & André Eterovic (Universidade Federal do ABC)
O número de mortos é um indicador terrível do impacto da COVID-19 sobre países, estados e cidades. A dinâmica da epidemia pode ser muito diferente em escalas espaciais e temporais distintas. A forma como cada unidade administrativa acumula os óbitos pode sinalizar a intensidade e a velocidade da disseminação do vírus, permitindo tomadas de decisão estratégicas para seu manejo. Os top-20 em cada categoria são apresentados na Tabela 1, juntamente com o percentual apresentado há sete dias do número total de óbitos acumulados até hoje (05/06/2020). Os gráficos mostram a forma como esses valores variaram até chegar a 100% das mortes registradas no momento, ao longo de uma semana (com respectivas linhas de tendência) (Figuras 1 a 3). A data de referência para os países é 1/01/2020; para os estados e municípios brasileiros é 25/02/2020. Quanto menor o percentual da tabela, maior a declividade da curva.
A interpretação deve ser feita de modo similar ao da postagem de 31/5/2020 (“A Olimpíada continua macabra”). Países cujas curvas são íngremes (México, Paquistão, Índia) ainda apresentam taxas altas de novos óbitos em relação a países com curvas mais paralelas à horizontal (China, Holanda, Bélgica) (Figura 1). O Brasil está mais próximo do primeiro grupo. Dentre os seus estados, não há nada parecido com os países do segundo grupo: AM, PA e MA têm os aclives mais modestos, mas estão longe de um platô (Figura 2). PI, RN e BA têm as curvas mais inclinadas, quase paralelas à diagonal de referência. Esse quadro é similar ao dos municípios: Maceió, Brasília e Guarulhos estão no grupo mais crítico e São Luís, Olinda e Recife, no extremo oposto (Figura 3). Tais análises são dependentes da confiabilidade dos registros e levam a resultados diferentes a cada dia. Dados para países estão disponíveis no sítio da União Europeia e, para estados e municípios, na plataforma Brasil.io (oriundos das Secretarias de Saúde).

Figura 1. Percentagem do total de mortes acumuladas até 05/06/2020. Para os top-20 países, a data de referência é 01/01/2020. Os gráficos exibem apenas a porção superior das curvas (acima de 75%, eixo vertical) referentes aos últimos sete dias (com respectivas linhas de tendência). Diagonais tracejadas servem apenas como referência.

Figura 2. Percentagem do total de mortes acumuladas até 05/06/2020. Para os top-20 estados, a data de referência é 25/02/2020. Os gráficos exibem apenas a porção superior das curvas (acima de 75%, eixo vertical) referentes aos últimos sete dias (com respectivas linhas de tendência). Diagonais tracejadas servem apenas como referência.

Figura 3. Percentagem do total de mortes acumuladas até 05/06/2020. Para os top-20 municípios, a data de referência é 25/02/2020. Os gráficos exibem apenas a porção superior das curvas (acima de 75%, eixo vertical) referentes aos últimos sete dias (com respectivas linhas de tendência). Diagonais tracejadas servem apenas como referência.

REFERÊNCIAS: