O mundo enfrenta a pandemia do novo coronavírus e a maioria dos países adota uma série de medidas para impedir a rápida transmissão da doença. As principais medidas incluem o fechamento de escolas, cinemas, igrejas, proibição de aglomerações, restrições de horário comercial, além da quarentena de casos suspeitos e o uso de máscaras. Está bem determinado que tais medidas diminuem a transmissão do vírus, a propagação da doença e evitam o colapso do sistema de saúde. Portanto, reduzem o número de mortes. É inevitável que uma pandemia (pelas restrições sociais, mortes causadas e outros fatores) tenha também implicações na economia de um país. Mas o uso dessas medidas agrava ou atenua o impacto econômico? Tomar medidas moderadas ou ignorar a pandemia diminui o impacto econômico?
Para não ficarmos no terreno especulativo, e termos uma visão mais científica dessa questão, é necessário buscarmos dados concretos, acompanhando um número grande de países, estados ou cidades, que tenham adotado uma ou outra estratégia. Porém, estamos em meio à pandemia do coronavírus e ainda não temos tal informação. Uma alternativa é olharmos para trás, observando cenário semelhante pelo qual o mundo já viveu e resgatar os dados históricos da economia. Há 100 anos, vivíamos uma pandemia similar à atual. A pandemia da gripe espanhola se estendeu de janeiro de 1918 a dezembro de 1920. Estima-se que cerca de 500 milhões de pessoas (1/3 da população mundial) foram infectadas pelo vírus influenza H1N1, totalizando pelo menos 50 milhões de mortes em todo o mundo.
Estudo recente (ver referência abaixo) avaliou o número de mortes e a recuperação da economia em 43 cidades norte-americanas, na época da gripe espanhola. Uma parte das cidades adotou medidas enérgicas, que incluíram o fechamento de escolas, teatros e igrejas, o banimento de reuniões e aglomerações de pessoas, mas também outras ações, como uso obrigatório de máscara, isolamento de casos e medidas públicas de desinfecção e higiene. Outra parcela das cidades adotou apenas medidas moderadas.
Para cada cidade foram levantadas informações sobre mortalidade e de parâmetros relacionados à economia (e.g., atividades de manufatura, empregos e produção, balanços bancários). O resultado pode ser resumido no gráfico abaixo. Foi constatado que as cidades que intervieram mais cedo e de forma mais agressiva não apresentaram desempenho econômico pior e, pelo contrário, cresceram mais rapidamente após o término da pandemia. Assim, os resultados do estudo indicam que as medidas mais enérgicas não apenas reduzem a mortalidade, mas também podem atenuar as conseqüências econômicas adversas de uma pandemia.

(adaptado de Correia et al. 2020).
REFERÊNCIA
Correia, S.; Luck, S. and Verner, E. Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu (March 30, 2020). Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=3561560 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3561560